quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Caro Egídio

Egídio, sem brincadeira, eu gostaria de te dar um abraço.

Não deve ser nada fácil ter que carregar nos ombros o peso do pênalti perdido e da eliminação nas oitavas da Libertadores. Eu vou te dizer outra coisa, que também vai parecer gozação: obrigado. Eu ouvi dizer que você só bateu porque outros se calaram. Se é mesmo verdade que você se ofereceu, deu mostra de coragem. E eu admiro quem veste a camisa do Palmeiras com coragem.

Mas, preciso ser sincero.

Do mesmo modo que não vou ser canalha e colocar o peso do fracasso em você, não vou ser leviano e fingir que você não tem responsabilidade. Se me permite, acho que não era você que tinha que ter batido. Tantos se calaram, eu sei. É difícil apontar o dedo para quem teve coragem em meio ao silêncio daqueles que não tiveram. Mas não era para você. Não era.

Por que você se ofereceu para bater? 

Egídio ganha abraço de Moisés após errar cobrança que eliminou o Palmeiras da Libertadores
Eu tinha certeza de que você iria errar, velho. Eu, o Allianz Parque, todo palmeirense em frente à TV. Espanta-me muito que você não tenha tido esse feeling – ou os seus colegas. O jogo, para quem está no campo, é outro, né? Eu só joguei (mal) futebol universitário. E, mesmo assim, lembro que a sensação que eu tinha no campo era totalmente diferente daquela que eu sentia na arquibancada.

Eu acompanhei cada passo seu depois do erro. Eu te vi parado, atônito, enquanto o Barcelona-EQU parecia não acreditar estar classificado. Eu te vi caminhar, com calma, na direção do Jailson, que te abraçou. O Moisés também o fez. Você depois seguiu para o círculo central. Senti um aperto no coração de ver aquela camisa 6, com você dentro, caminhando sem ninguém ao lado. Seus colegas foram gesticular com a Mancha Verde, questionando quem te xingava. Mas não era só a Mancha. E os xingamentos seguiram. 

Não estavam te xingando só por causa disso, também, vale frisar. Você erra muito, em muitos jogos. Nesse jogo com o Barcelona de Guiaquil, por exemplo, você entrou em campo com a chuteira errada no primeiro tempo. Escorregou várias vezes...

Você jura que, em nenhum momento, passou pela sua cabeça que você pudesse errar o pênalti? Era o roteiro perfeito. O silêncio que se ouviu quando você pegou a bola foi estrondoso. Eu gritei seu nome, mas eu não acreditava que você fosse acertar. Um cara, com rádio na orelha, gritou, atrás de mim, que você tinha o melhor aproveitamento nos treinos. Por um instante, então, eu acreditei. Um instante.

A corrida. A batida. A defesa.

O vazio.

Eu não sei o que vai ser do seu futuro no clube. Eu, no seu lugar, provavelmente pediria para ser negociado. Mas, parece-me, você não é assim. Há anos, você é xingado, ironizado e detestado por parte dos torcedores. E continua trabalhando, jogando com seriedade, recebendo respaldo do Cuca e dos colegas. Você deve ser um grande companheiro. Todos ficaram ao seu lado na discussão com o Felipe Melo. Mesmo você tendo tomado uma decisão erradíssima no Mineirão, há uma semana, quando o Palmeiras foi eliminado da Copa do Brasil.

É tanta coisa na cabeça, que fica até difícil organizar o que estou pensando. Eu não quero te culpar, mas foi você quem errou o pênalti. Só erra quem bate, diz o ditado. Por isso que repito, não era para você ter batido. Não era. Assim como não era para você ser, de fato, o único lateral-esquerdo “viável” do time. Mas isso, bom, não é culpa sua. O Palmeiras tem diretoria, tem scouts, tem observadores e analistas de desempenho.

Ah, Egídio...


Eu não bato pênalti, mas tenho umas decisões importantes aqui no trabalho. Espero tomá-las com mais precisão que você. Sorte na vida, meu chapa. Um abraço. 

5 comentários:

  1. Parabéns de novo meu amigo, todos nós sabíamos que ele ia errar!!!

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  2. Tão óbvio quanto o Bruno Henrique que não jogou nada a partida inteira, estava acabado ao fim do jogo e também pegou a bola pra bater... se ele não tivesse errado, o Jailson pegaria o último penalti dele e estariamos classificados na cobrança do Moisés que bateu com uma perna só. Bruno Henrique tem tanta culpa quanto o Egídio

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  3. Belo texto meu amigo! Um sentimento de raiva e de 'orgulho" por ele ter chamado a responsabilidade.

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