terça-feira, 6 de junho de 2017

Valdivia: É melhor pensar pelo lado negativo...

Não é pouco: Valdivia faz parte da história do Palmeiras já há onze anos - mais de um décimo da vida do clube. Foi em 2006 que o diretor Salvador Hugo Palaia, com anuência do técnico Tite, trouxe o chileno/venezuelano para a Academia de Futebol. E, desde então, mesmo no Oriente Médio, a verdade é que o meia nunca deixou de fato o Palestra.

Pois em 2017, mesmo o Palmeiras vindo de dois títulos nacionais sem sua presença, mesmo com um ídolo como técnico, com um dos elencos mais bem qualificados do Brasil, com o maior patrocínio das Américas, com rendas e públicos dignos da Bundesliga... a maior notícia da semana alviverde é um tweet no vácuo do eterno camisa 10.

Valdivia não é nada bobo. Twitou em português, que é não só para deixar bem claro com qual torcida quer se comunicar, mas também para deixar os palmeirenses, mesmo aqueles que não o suportam, pelos motivos mais justos e óbvios, em polvorosa.



Postou na internet para mexer com a torcida, mesmo. Quer que seu nome entre na pauta do Alexandre Mattos, do Maurício Galliote e da Leila da Crefisa pelos braços do povo, não pelo telefone do dirigente, como seria o movimento óbvio para um ex-atleta do clube.

Se futebol fosse videogame, Valdivia teria lugar não só no Palmeiras, mas em qualquer clube do Brasil. Até o surgimento de Gabriel Jesus, Valdivia era o último fora de série a vestir a camisa alviverde. O problema é que futebol é um jogo de carne, osso e músculos, que se lesionam - em especial os dos atletas que não dão aos seus corpos o devido descanso e que abusam, por exemplo, da noite paulistana.

Ah, que bom seria, Mago, se fosse possível ter certeza de que você está a fim de vir para o Palmeiras para jogar futebol. Até porque, com o Cuca, era capaz de você jogar. Até o Ronaldinho Gaúcho jogou com ele, afinal, naquele Galo campeão da Libertadores de 2013. Até porque, como diria o seu grande amigo Neto, sem a necessidade de ser o protagonista, era capaz de você se encaixar...

Poderia entrar no segundo tempo de um jogo duro contra o River, no Monumental, levar três pontapés e cavar uma expulsão. Poderia, voltando de contusão, claro, entrar só para os gritos de olé, nos minutos finais de um jogo contra o São Paulo do professor Rogério Ceni, por exemplo, no segundo turno do Brasileiro. Imagina se ele mete um gol e faz outra dancinha daquelas?



Não, não é possível que eu esteja aqui conjecturando cenários em que ele poderia voltar. Mas estou. E sabem por quê? Porque Valdivia, até Gabriel Jesus, repito, era o único motivo de orgulho do palmeirense no campo. O time capengava, brigava para não cair, perdia para o Mirassol, para o Coxa, mas a gente sempre sabia: tem um craque com a nossa camisa 10 - ainda que ele não jogue. E a mídia tinha que falar dele. As crianças queriam ser ele. Era legal vê-lo em campo.

Equiparável ao orgulho que ele trazia, só mesmo o prejuízo financeiro e, porque não, técnico. Afinal, por muitos anos o clube não foi atrás de um meio-campista por acreditar que Valdivia iria parar de se lesionar e, enfim, honrar os quase R$ 1 milhão em custos mensais, somados aí salários, luvas, comissões amortizadas e parcelas do empréstimo tomado pelo clube para contratá-lo.

Não, não vou pensar na dancinha contra o São Paulo em 2008, nos chutes no vácuo (que deram certo e não causaram lesão), no dia em que ele driblou um time inteiro do SCCP, em 2007, a ponto de o Luciano do Valle dizer na transmissão que estava com dó da defesa do Corinthians.

Não vou pensar nele pulando transtornado de alegria na direção dos seus desafetos da Mancha Verde, no Itaquerão, depois de o Prass pegar o pênalti do Petros. Não vou pensar que, não fosse ele, em 2014, com a faixa de capitão, o Palmeiras provavelmente teria sido rebaixado no ano de seu centenário. Nem que, em 2012, ele saiu do banco para bater o Grêmio na semifinal daquela Copa do Brasil.

Vou pensar que ele vai causar problemas. Em vez do gol contra o Grêmio, vou pensar que ele foi expulso na primeira final contra o Coxa. Vou pensar que ele vai chegar querendo ser dono do time. Que vai brigar com Cuca e criar uma pressão insuportável para o técnico, que vai ter de ouvir o nome do meia toda vez que o Roger Guedes estiver jogando mal. Que vai causar ciumeira no elenco e que vai passar mais tempo no Departamento Médico do que no campo, jogando, de novo, o dinheiro do Palmeiras no lixo.

É isso. Vou pensar só no lado negativo.

Porque se eu imaginar que, se não vier para o Palmeiras, ele pode ir para um rival. Se eu acreditar que ele ama mesmo o Palmeiras. Que ele quer voltar e está a fim de, enfim, dar de volta ao clube tudo que o clube lhe deu. Se eu pensar em todas as alegrias que Valdivia já me trouxe, mesmo nesses anos de trevas que o Palmeiras viveu, vai ser difícil não dizer "volta pra casa, Mago".


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