sexta-feira, 26 de maio de 2017

Em um passado nem tão distante

Uma fábula conta a história de um imperador persa que pediu a um poeta sugestão de frase para ser inscrita do lado de dentro de um anel. A condição é que a frase pudesse lhe servir de aconselhamento em todos os momentos de sua vida. Após algum tempo, o governante recebeu um anel com  a mensagem: "Isso também vai passar".

Como foi um dia depois de um jogo em que o Palmeiras ganhou com sobras do Tucumán na Libertadores (3 a 1), com gol de Cucabol ensaiado e com Allianz Parque lotado, esperei um dia para falar sobre a triste lembrança que o Facebook me trouxe na quinta-feira, 25. Não estava a fim de cortar o clima. O meu próprio, inclusive. 

Há quatro anos e um dia, o Palmeiras estreava, pela segunda vez. na Série B do Brasileiro. Sob o comando de Gilson Kleina, Bruno; Ayrton, Henrique, Maurício Ramos (André Luiz) e Juninho; Márcio Araújo, Charles e Tiago Real; Leandro (Maikon Leite), Kleber e Vinícius (Ronny) começaram a caminhada do Palmeiras de volta à Série A, contra o Atlético-GO, em 25 de maio de 2013. 


Maurício Ramos puxa a fila do Palmeiras na estreia da Série B/2013 (FOTO/Diego Iwata Lima)

Leia de novo a escalação do time acima. Mais uma vez. Segure o riso nervoso. Segure o choro. Sim, amigos, faz pouco tempo que esses senhores acima formaram o onze do Palmeiras - mais três reservas que entraram.

Pense nos piores jogadores do elenco atual. Compare-os com o que Kleina tinha de melhor naquele dia para montar o Palmeiras. Pense no "Kleber Modelo". Talvez Henrique pudesse ser reserva hoje? Talvez Egídio seja o último com "antigabarito" para jogar no Palmeiras de 2013? 

Eu estava lá, na aprazível e fria cidade de Itu, onde o Palmeiras, nunca antes tão desconfigurado em relação á sua história, reestreou na Segundona. 

Foi uma das últimas coberturas que fiz in loco pelo Diário de S. Paulo, antes de me transferir para a Folha. Coberturas in loco pelo bravo Diário eram incomuns na época, ainda mais em outras cidades: eram caras e o equipamento não era confiável a ponto de assegurar envio do material a tempo do fechamento. Mas viajar deu certo nesse dia, o que me deixou com um sentimento agridoce. Porra, era legal cobrir o jogo. Mas era uma merda, como torcedor, viver aquilo. 

O clima era de muita melancolia. A diretoria de Paulo Nobre, em seu quinto mês de mandato, elevou o preço do ingresso mais barato para R$ 60. E pediu inomináveis R$ 200 por uma cadeira descoberta. A estratégia deu espetacularmente errado: 4.612 pessoas somadas fizeram o Palmeiras arrecadar uma renda bruta de R$  180.850,00 naquela tarde no  Estádio Dr. Novelli Júnior - 1/15 da renda e oito vezes menos pessoas do que angariaria quatro anos depois, contra o Tucumán.

Como se para deixar claro que aquele não podia ser o Palmeiras, o público não compareceu e nem o hino nacional tocou. Os jogadores se perfilaram, aguardaram pela execução e, como ela nunca veio, apenas se dispersaram e foram bater bola.

Rodovia Castelo Branco na volta de Itu para São Paulo após o jogo: pouca luz na escuridão, rs (FOTO/Diego Iwata Lima)
Prass, que já estava no grupo, ficou fora do jogo devido à xicarada que levara na testa, em briga de Valdivia com a Mancha, meses antes, na Argentina. Aliás, de normalíssimo naquele dia, apenas o fato de que o chileno, mais uma vez, alegou não reunir condições clínicas de entrar em campo. Estava fora desde 14 de março, com dores na coxa esquerda. E, como dores são algo subjetivo, ninguém podia contestá-las.

O Palmeiras ganhou com gol, vejam só, justamente do substituto do camisa 10 naquele dia. Tiago Real, de cabeça, deu ao Palmeiras seus primeiros três pontos naquele Brasileiro: 1 a 0. O time subiria com tranquilidade. E a torcida diria "adeus, nunca mais" (bate na madeira) para a Segunda Divisão nacional.

Olhar para o Palmeiras hoje, comparar a situação com um passado recente e não se sentir aliviado é impossível. Deixar de dar mérito a Paulo Nobre e seus diretores, que ainda erraram muito antes de entrar nos trilhos para conquistar dois títulos nacionais, é miopia e enviesamento de análise.

Mas rogo que essa lembrança sirva também para que a gente se lembre sempre do barro que pisamos em dias menos felizes. Porque tudo que é ruim passa. Mas o que é bom, também se esvai, um dia. Em especial no futebol, que é cíclico, como diria o sábio professor Vanderlei Luxemburgo - que bem podia ter recebido um anel como o da fábula, lá pelos anos 2000...


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