Como foi um dia depois de um jogo em que o Palmeiras ganhou com sobras do Tucumán na Libertadores (3 a 1), com gol de Cucabol ensaiado e com Allianz Parque lotado, esperei um dia para falar sobre a triste lembrança que o Facebook me trouxe na quinta-feira, 25. Não estava a fim de cortar o clima. O meu próprio, inclusive.
Há quatro anos e um dia, o Palmeiras estreava, pela segunda vez. na Série B do Brasileiro. Sob o comando de Gilson Kleina, Bruno; Ayrton, Henrique, Maurício Ramos (André Luiz) e Juninho; Márcio Araújo, Charles e Tiago Real; Leandro (Maikon Leite), Kleber e Vinícius (Ronny) começaram a caminhada do Palmeiras de volta à Série A, contra o Atlético-GO, em 25 de maio de 2013.
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Maurício Ramos puxa a fila do Palmeiras na estreia da Série B/2013 (FOTO/Diego Iwata Lima) |
Leia de novo a escalação do time acima. Mais uma vez. Segure o riso nervoso. Segure o choro. Sim, amigos, faz pouco tempo que esses senhores acima formaram o onze do Palmeiras - mais três reservas que entraram.
Pense nos piores jogadores do elenco atual. Compare-os com o que Kleina tinha de melhor naquele dia para montar o Palmeiras. Pense no "Kleber Modelo". Talvez Henrique pudesse ser reserva hoje? Talvez Egídio seja o último com "antigabarito" para jogar no Palmeiras de 2013?
Eu estava lá, na aprazível e fria cidade de Itu, onde o Palmeiras, nunca antes tão desconfigurado em relação á sua história, reestreou na Segundona.
Foi uma das últimas coberturas que fiz in loco pelo Diário de S. Paulo, antes de me transferir para a Folha. Coberturas in loco pelo bravo Diário eram incomuns na época, ainda mais em outras cidades: eram caras e o equipamento não era confiável a ponto de assegurar envio do material a tempo do fechamento. Mas viajar deu certo nesse dia, o que me deixou com um sentimento agridoce. Porra, era legal cobrir o jogo. Mas era uma merda, como torcedor, viver aquilo.
O clima era de muita melancolia. A diretoria de Paulo Nobre, em seu quinto mês de mandato, elevou o preço do ingresso mais barato para R$ 60. E pediu inomináveis R$ 200 por uma cadeira descoberta. A estratégia deu espetacularmente errado: 4.612 pessoas somadas fizeram o Palmeiras arrecadar uma renda bruta de R$ 180.850,00 naquela tarde no Estádio Dr. Novelli Júnior - 1/15 da renda e oito vezes menos pessoas do que angariaria quatro anos depois, contra o Tucumán.
Como se para deixar claro que aquele não podia ser o Palmeiras, o público não compareceu e nem o hino nacional tocou. Os jogadores se perfilaram, aguardaram pela execução e, como ela nunca veio, apenas se dispersaram e foram bater bola.
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Rodovia Castelo Branco na volta de Itu para São Paulo após o jogo: pouca luz na escuridão, rs (FOTO/Diego Iwata Lima) |
O Palmeiras ganhou com gol, vejam só, justamente do substituto do camisa 10 naquele dia. Tiago Real, de cabeça, deu ao Palmeiras seus primeiros três pontos naquele Brasileiro: 1 a 0. O time subiria com tranquilidade. E a torcida diria "adeus, nunca mais" (bate na madeira) para a Segunda Divisão nacional.
Olhar para o Palmeiras hoje, comparar a situação com um passado recente e não se sentir aliviado é impossível. Deixar de dar mérito a Paulo Nobre e seus diretores, que ainda erraram muito antes de entrar nos trilhos para conquistar dois títulos nacionais, é miopia e enviesamento de análise.
Mas rogo que essa lembrança sirva também para que a gente se lembre sempre do barro que pisamos em dias menos felizes. Porque tudo que é ruim passa. Mas o que é bom, também se esvai, um dia. Em especial no futebol, que é cíclico, como diria o sábio professor Vanderlei Luxemburgo - que bem podia ter recebido um anel como o da fábula, lá pelos anos 2000...
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