por Diego Iwata Lima
Minha lembrança mais antiga de um jogador com a camisa do Palmeiras é uma imagem do Mário Sérgio.
Era noite. Meu pai e eu caminhávamos em direção ao Palestra Itália e passamos em frente a uma banca que ficava na esquina da Turiaçu, hoje Palestra Itália, com a Diana. Calculo que essa lembrança seja de 1984, quando eu tinha 3 ou 4 anos, dependendo do mês. Lá estava ele: barbudo, mal encarado, meio careca, um tanto velho, estampado em um jornal.
Sempre foi assim para mim. Esporte e jornalismo juntos. Foi por não ter talento para viver da bola que decidi viver de escrever sobre ela, embora tenha demorado alguns anos, depois de formado, para assumir esse desejo.
A Cásper Líbero não foi uma escolha ao acaso. Era o prédio que fazia cenário de fundo para as festas de títulos dos clubes paulistas. Local de chegada da São Silvestre. Endereço da TV Gazeta, onde o Roberto Avallone comandava o Mesa Redonda nas noites de domingo e falava do Palmeiras em todos os blocos - com uma pitadinha de Palmeiras no bloco final.
A tragédia de Medellín, que matou a delegação da Chapecoense, me atingiu nas duas paixões. Matou os jogadores que eu queria ter sido e cujo ofício sempre admirei. Matou os colegas da profissão que abracei. E, entre eles, representando os dois mundos, estava justamente o Mário Sérgio, que se tornara comentarista depois de ser craque jogando e de uma carreira de altos e baixos como técnico de futebol.
Meu primeiro chefe no jornalismo, Márcio Venciguerra, da finada Gazeta Mercantil, sempre me dizia que o jornalista só era notícia se matasse a mocinha, como fez o Pimenta Neves. Mas, como disse Galvão Bueno na edição especial do Jornal Nacional que homenageou os mortos no acidente, se é verdade que o jornalista esportivo depende do atleta para ter o que dizer, também é verdade que, sem o relato, não há feito que se conheça.
Sim, somos todos Chape. É muito triste ver uma equipe de jogadores e profissionais de futebol morrer no auge da história de seu clube, tão cheios de sonhos e futuro. Mas choro na mesma medida pelos ótimos colegas de profissão que também partiram.
Choro pelo gol "pra explodir" do Deva Pascovicci, de quem fui fã desde a época do Sportv e que conheci nos corredores da CBN quando tive a honra de ser convidado para comentar jogos.
Pelas opiniões ácidas do Mário Sérgio, o "comentarista calibre 38", como o chamava Silvio Luiz, em alusão à mania dele de andar armado na época de Band.
Pelas informações transmitidas com precisão e calma pelo Victorino Chermont. E pelas vidas interrompidas de outros 17 profissionais que estavam naquele avião preparados para contar os feitos da Chapecoense.
Porque também faz História quem sabe contar histórias.
Belo texto! Costumo dizer que o jornalista é um contador de histórias e, quando elas são recheadas de emoção, se tornam ainda mais atraentes, de leitura fácil. Somos todos jornalistas!
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