Por Diego Iwata Lima
Não é por acaso que a expressão "perder o chão" serve para designar o estado de confusão mental e perdição daqueles que não sabem que rumo tomar, que não conseguem colocar ordem nos pensamentos. Na vida, propriamente.
Faz mais de quatros anos que o Palmeiras, e principalmente o palmeirense, perderam o seu chão.
Em 9 de julho de 2010, quando se apagaram as últimas luzes do Estádio Palestra Itália, o Stadium Palestra Italia, o velho Parque Antárctica, apagaram-se também, temporariamente, partes das luzes de muitas almas verdes e brancas.
Por mais que outros chãos tenham se oferecido para receber os nossos pés, nenhum jamais chegou minimamente perto de representar uma pequena parcela daquele obsoleto estádio, em forma de ferradura, com um trampolim atrás de um gol, milhões de rachaduras, infiltrações, refletores capengas, remendos e puxadinhos malfeitos.
Nossa casa.
Sem referência, sem o nosso lar, nos perdemos muitas vezes. Batemos cabeça, tropeçamos, caímos. Mas sempre nos lembrávamos de que, um dia, voltaríamos para o aconchego da nossa casa. E que, por lá, tudo iria ficar melhor.
Neste 19 de novembro de 2014, o palmeirense voltará a se encontrar com uma parte importante de si mesmo.
No lugar do jardim suspenso, do fosso e das arquibancadas desgastadas, onde muitos de nós aprendemos a amar irracionalmente, está o estádio mais moderno do Brasil.
Sim, isso é motivo de orgulho.
Mas importa muito menos do que pode parecer para quem olha de fora. Porque se hoje estivessem reabrindo o mesmíssimo Palestra Itália que fechou seus portões há quatro anos, com os mesmos defeitos e problemas, podem apostar, estaríamos todos empolgados de voltar às nossas surradas arquibancadas de cimento.
Pode ter sido inútil e gerado problemas para a construção, mas é no mínimo poético que parte da velha arquibancada, sob o placar, tenha sido mantida por força de alvará.
Sob a imponência do Allianz Parque bate o coração de concreto armado do nosso velho Palestra Itália. Não é possível vê-los. Mas sabemos que aqueles lances de arquibancada estão ali.
Quis o destino que sobrasse de pé justamente a parte da estrutura em que assisti aos primeiros jogos da minha vida, acompanhado do meu pai Wagner Cano Lima e de tantos grandes amigos. Os mesmos que citei neste texto na época em que o estádio foi fechado e que espero reencontrar no futuro breve.
Seja bem-vinda de volta, casa nostra. Você não imagina a falta que você nos fez.
Não vejo a hora de podermos pisar o seu chão, o meu chão, outra vez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário