sábado, 21 de junho de 2014

Não morre quem viverá para sempre


Oberdan Cattani morreu nesta sexta, 20 de junho, levando consigo umas das páginas mais lindas da vida do Palmeiras.

Apenas cinco anos mais jovem que o clube, Oberdan é a história alviverde. Viveu a consolidação do Palestra Itália e a traumática transubstanciação em Palmeiras.

Oberdan, Junqueira e Begliomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio, Waldemar Fiume, Viladoniga, Lima e Echevarrieta. Técnico: Armando Del Debbio.

Oberdan era o único remanescente do primeiro onze do Palmeiras na história.O único jogador a atuar pelo Palestra Itália que estava vivo.

Com misto de orgulho e tristeza, carregou a bandeira nacional para o gramado do Pacaembu no dia em que o time, que jamais deixará de ser Palestra, foi Palmeiras pela primeira vez.

Consolou os colegas que choravam e diziam que aquela não era a "nossa camisa". Porque era.

Com muita honra e verdadeiramente emocionado, entrevistei Oberdan algumas vezes.

Como todo bom palmeirense, ele dizia que não se importava mais tanto com o time. Mentira deslavada que sua filha e seu genro, que moravam com ele, desmentiam, pelas costas dele, com riso carinhosos e disfarçados.

Oberdan, enquanto pode, varou madrugadas vendo videotapes dos péssimos jogos que o Palmeiras fez nos últimos tempos, brigando com a TV. Assistia aos bons jogos, também. Mas estes, sabemos, são minoria.

O sobrado na Pompeia onde Oberdan morava, na verdade, era apenas um posto avançado do próprio Palmeiras, a verdadeira Casa Cattani, na rua Turiaçu. Foi lá, inclusive, que o ídolo se casou.

Assim como seu quarto, na rua Desembargador do Vale, era só um átrio para o museu das relíquias que Oberdan juntou ao longo de sua vida.

Lá, ficavam as medalhas, camisas, as primeiras e últimas chuteiras, fotos e diplomas de homenagens diversas. E a alma de Oberdan.

De todos os maiores erros das diretorias do Palmeiras, deixar que Oberdan partisse desta vida sem ver seu maior sonho realizado - um busto seu, de bronze, nas alamedas do clube - é dos mais imperdoáveis.

Mas a verdade é que Oberdan não precisava do busto, que vai ser inaugurado nos próximos dias. Assim como não precisa estar vivo para seguir vivendo.

As lendárias mãos de Oberdan eram mesmo enormes. Mas ridiculamente pequenas se comparadas ao amor dele pelo Palmeiras.


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