terça-feira, 18 de junho de 2013

Expressar o quê? Expressar como?

Interrompemos a programação esportiva para falar um pouco sobre as manifestações. Vou tentar não escrever muito longamente e ser repetitivo.

Quanto ao que se viu no dia 17 de junho, e que foi muito bonito, existem as constatações óbvias, a que muita gente já chegou. O protesto não é por um motivo só. E por uma série de coisas de que parcelas diferentes da população decidiram se queixar ao mesmo tempo, aglutinadas oportunamente pela brecha criada pelo MPL. Estes sim sabem o que querem: reduzir o preço das tarifas do transporte coletivo. Entendo, no entanto, que há uma demanda comum, que é ter o direito de se manifestar. Querem poder se expressar sem repressão. Mas expressar o quê? Expressar como?


Por estarem na única ala realmente estruturada entre os manifestantes, os líderes do MPL ganharam legitimidade, deram entrevistas, foram recebidos na prefeitura. Mas o foco deles é só a redução da tarifa. Nina Capello e Lucas Monteiro de Oliveira, inclusive, não tiveram o delírio megalômano de se colocarem como líderes de todas as demandas quando entrevistado no Roda Viva.

Fernando Haddad, Geraldo Alckmin, Dilma, Lula, PT, PSDB, Sérgio Cabral, Eduardo Paes, vários governadores e prefeitos. Diversos grupos e políticos são alvos de protestos diferentes dentro da grande massa que se locomoveu e continuará se locomovendo em várias cidades. Seria bacana se pudéssemos definir um alvo. Classe política? Mais ou menos. Depende. Tem gente defendendo o PSDB e atacando a Dilma. Tem de tudo.

Aos poucos, essas diferenças vão ficar mais evidentes.O pessoal mais afeito à esquerda vai começara ficar puto com "essa playboyzada do c*ralh*", que estão mais preocupados em postar no Instagram. A galera dos Jardins e Perdizes no fundo, está meio incomodada com os "petistinhas de merda". Ainda mais agora que o Haddad disse que pode aumentar a carga tributária para subsidiar o transporte público. A Juventude PSDBista já disse que não vai participar das manifestações, porque não quer enfraquecer o Alckmin. Entendi. Acima, o interesse do partido. E tudo mundo que não é filiado, ao que parece, está contra o PSTU e PCO. E tem aqueles que querem quebrar tudo e dane-se. Também são uma categoria protestante legítima. 

Outra coisa: O pessoal precisa entender o que dá para fazer. Impeachment do Alckmin ou da Dilma? Esqueçam. Não vai acontecer. Cancelamento da Copa do Mundo, devido aos altos gastos e óbvios superfaturamentos? Bom, isso implicaria, por exemplo, em protestar contra o Itaquerão e derrubar alguns estádios. E aí, essa briga vai ser comprada? Como se portarão os corintianos e parte dos paulistas que quer a Copa em SP? PEC 37? E, enquanto o pessoal marchava na Paulista, o Marco Feliciano, quase na surdina, aprovava a "cura gay" em primeira instância, na CDH.

Pela prisão de Dirceu e demais condenados do Mensalão? Ah tá, os petistas vão marchar por isso na Paullista mesmo, de braços dados com  a massa, cantando o Hino Nacional e pedindo "Fora Dilma". Tem gente que marchou na Berrini e postou no Facebook, à tarde, a favor de uma intervenção militar para salvar o  país da Ditadura Comunista que a Dilma vai instalar por aqui em 2014. Tentem se juntar sem o pessoal de esquerda, então, antipetistas. Vejam quantos vocês vão conseguir levar às ruas sem eles...

Tem muita gente querendo. Querendo o quê? Foi muito emocionante, muito importante. Muitos se engajaram, se envolveram, postaram fotos e marcharam mesmo. Protestaram contra algo que não estivesse ao redor do umbigo pela primeira vez. Houve também quem tivesse ido para a rua pela trigésima vez no ano. Lado a lado.

Não estão todos no mesmo barco. Nem remando na mesma direção. Não diminui a importância do que aconteceu e vai continuar acontecendo. Mas já podemos abandonar algumas ilusões. Unidade é só nome de um jornal distribuído pelo sindicato dos jornalistas, que não anda muito ativo, diga-se. Mas isso é assunto para outro post.


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