domingo, 16 de dezembro de 2012

O maior abismo da história

Quando apitou o final de Corinthians 1 X 0 Chelsea, mais do que o título mundial alvinegro, o árbitro Cuneyt Çakir acabava de oficializar o maior abismo histórico entre Palmeiras e Corinthians. A rivalidade de 98 anos entre os clubes mais tradicionais do estado de São Paulo experimentava, naquele momento, a sua disparidade mais exacerbada. 

Um tem o mundo merecidamente sob as asas. O outro calça as chuteiras para pisar o duro barro da Série B e voltar para seu lugar de direito.

Corintianos que estão lendo esse texto podem, ufanisticamente, dizer que sempre foram maiores. Palmeirenses, orgulhosos, podem xingar e dizer que continuam muito superiores. Ambos estariam errados.

Mais do que a disparidade esportiva entre a conquista alvinegra e o rebaixamento alviverde, vale destacar os motivos para os dois fatos. Afinal, não faz muito tempo que o Corinthians esteve na mesma Segundona que o Palmeiras vai disputar no ano que vem. De 2009 para cá, no entanto, o Corinthians só andou ladeira acima. Ganhou Paulistão, Copa do Brasil, Brasileiro e Libertadores, antes de levantar o troféu em Yokohama. Curiosamente, foi no mesmo ano de 2009 que o Palmeiras iniciou seu calvário. 

A derrocada do Verdão de Muricy Ramalho, que liderou o Brasileirão com folga por mais de um turno, resultou em um trágico retrocesso. Culminando na irresponsabilidade financeira do segundo ano da gestão Luiz Gonzaga Belluzzo e no total desastre da administração de Arnaldo Tirone. 

Andrés Sanchez recebeu até escarrada no rosto, vinda de um torcedor uniformizado, quando foi eleito presidente do Corinthians, em 2007. Assumiu um clube rebaixado e devastado, ainda mais desamparado que o Verdão de 2002 - bem como o de 2012. O Corinthians, notório "sem-estádio", não tinha nem centro de treinamento quando caiu. Isso, ao menos, o Alviverde já tinha. 

Mas Sanchez foi esperto. Entregou pontos chaves da administração, como o marketing e o planejamento, a pessoas competentes. E usando o que tem de melhor, seus contatos e ligações políticas, ousou e arriscou. A contratação de Ronaldo foi um golpe de gênio. Sanchez fez do Fenômeno um sócio e, assim, emprestou dele todo o prestígio que o Corinthians precisava para convencer empresas acerca de seu tamanho e da validade do investimento. Sanches foi o executor, mas Ronaldo é o grande fiador desta fase vencedora do Corinthians.   

Já no Palmeiras, a derrocada de 2009 levou o clube de volta para o fim dos anos 1980. "Vocês que votaram no Belluzzo, com esse papinho de modernidade, estão vendo o que aconteceu?", era o que mais se ouvia nas alamedas do Palestra Itália durante a campanha eleitoral de 2011. Assim, ganhou Tirone com seu sobrenome - o mesmo do diretor da formação da Academia de Futebol dos anos 1960 e 70. Em vez de gestores profissionais, departamentos como marketing, planejamento e até mesmo o jurídico passaram a ser loteados e divididos entre conselheiros, seus parentes e familiares. Isso sem mencionar o futebol. 

Arnaldo Tirone, que não é do ramo, colocou Roberto Frizzo como homem forte do departamento devido a alianças políticas. Frizzo e Tirone nem sequer eram do mesmo grupo político. E, devido a essa aliança interesseira e eleitoreira, o presidente não pôde sacar Frizzo do cargo quando o vice entrou em colisão com o técnico Felipão.

Independentemente de quem for eleito em janeiro, o próximo presidente do Palmeiras só tem a profissionalização como saída. Assim como o rival do Parque São Jorge soube fazer, o Palmeiras tem de parar de apenas bater no próprio peito. Precisa reafirmar a própria grandeza no gramado e nos negócios. Ao Alviverde, vencer em campo não será suficiente sem que o clube passe por uma reestruturação completa em seu setor administrativo. Prova disso é a Copa do Brasil conquistada em 2012. 

E quanto ao Corinthians? Além de curtir seu merecido troféu do Mundial de Clubes, basta ao clube - por enquanto - não se desviar da boa rota que levou o time ao Japão. O Corinthians chegou hoje a um nível de excelência empresarial/esportiva poucas vezes visto antes no futebol brasileiro. Ganha porque tem méritos em campo e competência em sua gestão. Uma coisa empurra a outra. E quem está atrás que trabalhe para alcançá-los. 

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