segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Filme: "Mau dia para pescar"- Excelentes atuações são trunfo de divertido uruguaio


Apoiado em 3 atuações primorosas, Álvaro Brechner estréia promissoramente na direção com Mau dia para pescar (2009). Antonella Costa (Diários de Motocicleta, 2005), o finlandês Jouko Ahala, bicampeão do concurso "World's Strongest Man", que trabalhou com Ridley Scott em Cruzada (2005), e, principalmente, o escocês Gary Piquer, também co-roteirista do longa, garantem um caminho seguro para o diretor uruguaio. Se é verdade que ousa pouco na forma de seu filme, Brechner, além de sua talentosa trinca de atores, compensa esse relativo conservadorismo com um tom agridoce correto, um ritmo tão preciso quanto agradável e uma fotografia requintada.

Na década de 60, o alegado 'Príncipe Orsini da República de Siena', (Piquer, seboso) é uma espécie de empresário do ex-campeão Mundial de Luta livre Jacob van Oppen (Ahala), alemão oriental 'resgatado das garras do comunismo'. Enquanto aguardam autorização da Federação Mundial para voltar aos ringues profissionais da Europa, Orsini e o já veterano van Oppen, asmático e revezando-se entre o tédio extremo e momentos de agitação e agressividade, partem em uma turnê por pequenas cidades da América Latina.

O plano é sempre o mesmo: Orsini chega à cidade e, por meio do jornal local e cartazes, desafia qualquer um a se manter por três minutos no ringue com o alemão. Quem conseguir sobreviver, leva mil dólares, uma fortuna na época. Ciente das limitações de van Oppen, Orsini sempre assegura que o desafiante não será páreo para o seu cambaleante, porém ainda gigantesco, campeão. Nem se, para tanto, precisar 'combinar' a luta, à revelia de van Oppen. A interpretação do finlandês é destacável. Embora seja a peça fundamental do esquema de Orsini, o lutador é servilmente obediente ao empresário, está sempre mal-humorado e aparentemente alheio à realidade.

Em Santa Maria, no Uruguai, entretanto, um imprevisto acaba colocando van Oppen diante de um adversário fora do script. Percebendo que Orsini, com toda sua empáfia elegante de quatrocentão falido, é na verdade um picareta, a bela Adriana (Antonella), seduzida pelos mil dólares do prêmio, decide fazer com que seu namorado, conhecido pela singela alcunha de "El Turco Matador", aceite o desafio. Usando o mesmo expediente de Orsini, Adriana faz trabalho de RP e vai ao jornal local anunciar o aceite, colocando o Príncipe em situação delicada. Sem poder controlar o ímpeto de Adriana, mas também impossibilitado de recuar, Orsini, tentando não perder a pose, se percebe cercado - sensação que o diretor consegue transmitir com habilidade.

Sem grandes pretensões reflexivas, mas com excelente e sutil humor, Mau dia para pescar acaba também falando sério sobre questões como o preço da dignidade, o orgulho e a necessidade vital de se escolher as brigas certas - literal e metaforicamente. Fala também sobre auto-confiança e sobre quão potencialmente devastadora pode ser uma relção em que uma pessoa tenta decidir a vida alheia de acordo com a sua perspectiva, sem respeito às subjetividades.

Exibido em Cannes e selecionado entre os dez finalistas da Mostra Internacional de São Paulo (2009), Mau Dia para pescar é forte candidato ao Troféu Bandeira Paulista, com um certo ar retrô, simplicidade e delicadamente latino.

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