Se Lucía Puenzo, 32 anos, tivesse feito um filme com quatro segmentos demarcados, como, por exemplo, Alejandro Gonazales Iñarritu fez em Amores Brutos e Babel, O Menino Peixe poderia ser um filme maior. Talvez Lucía tenha se entusiasmado com a possibilidade palpável de consolidar tantos bons argumentos em uma única história. Ou, que sé yo?, tenha achado que seu terceiro filme como diretora marcava um bom momento para arriscar un poquito más. Eu apostaria na primeira opção, e não estranharia se eventualmente descobrisse que o filme é mesmo uma fusão de idéias anteriormente desconexas. O Menino Peixe é bem montado. Assistí-lo, contudo, causa sensação semelhante à de estar diante de uma sopa com letras demais.
A pergunta "sobre o que é o filme?", facilmente evoca uma reposta óbvia - menina rica de Buenos Aires (Inés Efron), está namorando a encantadora menina empregada paraguaia da família (Mariela Vitale, destaque do elenco). Mas a resposta é capenga, por deixar de lado uma série de outras questões que também merecem menção: há um dependente químico; um juiz investigando questões perigosas; uma socialite em crise de meia-idade; um pai supostamente pedófilo; um submundo paraguaio no coração da Capital Federal argentina; corrupção policial; casamentos desmoronando; um ídolo decadente da TV e uma lenda sobre um bebê que respira embaixo d'água. E há mais, acredite. Daria, fácil, uma novela das oito para mais de seis meses.
Em vez de explorar conseqüências originadas de uma única situação roteadora, como fez em XXY (2007), exibido na 31ª Mostra e duplamente premiado em Cannes, Lucía Puenzo preferiu, dessa vez, fazer com que diversas situações trabalhassem e convivessem em prol do conflito que elegeu para ser o centro de seu roteiro - conflito esse que poderia ter facilmente sido relegado a um posto secundário e substituído por uma das tantas outras possibilidades sugeridas na obra.
O filme não é ruim, longe disso, e, como quase todo bom roteiro argentino, traz doses inerentes, e acertadas, conceda-se, de melodrama e catarse, ingredientes que os vizinhos sabem manejar com muita habilidade. Também está impressa na película aquela característica auto-confiança alvi-celeste, que, para ser simpático, não vou chamar de pretensão - e que muitas vezes, justiça seja feita, é válida. Também há um clichê ou outro salpicado aqui e ali pelo celulóide, uma solução muito fácil acolá, mas nada que comprometa.
Com água escapando pelo ladrão, o problema de O Menino Peixe é que o filme é pouco para tantas boas idéias secundárias, que pela pouca profundidade com que são exploradas, concorrem entre si e desnecessariamente minam o conflito central, em vez de enriquecê-lo. Ao optar por um rumo, Lucía talvez devesse ter eliminado algumas das outras tantas sub-tramas que apenas se insinuam em pouco menos de 100 minutos. O filme é mais do que se vê, embora nunca consiga sê-lo
Lucía Puenzo poderia ter ficado somente com o sal grosso, guardando os outro ingredientes, cujos gostos pouco se nota, para futuras receitas. Mas, mão pesada à parte, é bom ver uma realizadora tão jovem com tanto para dizer.
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