O filme é composto por três segmentos independentes, dirigidos por diretores que tem em comum o fato de não serem japoneses e de trabalharem bem com o humor.
Quem abre o filme, após os créditos estilizados e charmosos, é o queridinho Michel Gondry, dos hype Brilho eterno de uma mente sem lembranças (2004) e Rebobine, Por Favor (2008). Baseado na Graphic Novel Cecil e Jordan in New York, de Gabriele Bell, o francês cria uma atmosfera claustrofóbica para mostrar um jovem casal querendo se estabelecer na capital. Gondry repete o recurso usado em Rebobine e traz um tosco e engraçadíssimo filme dentro do filme. Ao retratar a dificuldade do casal em encontrar um lugar para morar, o diretor acaba falando também sobre a dificuldade das pessoas em encontrarem seus lugares, flertando de leve com questões existencialistas - além de mostrar que Tóquio tem muitos apartamentos inabitáveis. Para o desfecho, Gondry lança mão do onírico, e pode chegar a emocionar espectadores mais sensíveis.
O também francês Leox Carras, ficou com o segundo segmento, chamado "Merde", que na língua de Sarkozy quer dizer exatamente o que parece. Carras é responsável pela parte menos regular do filme, com sua história de um homem/coisa/criatura com ares de leprechal que vive nos esgotos de Tóquio e que, quando sai, espalha o terror pela cidade. Vale destacar as críticas cotovelares do francês a alguns costumes e características dos japoneses, bem como os engraçados boletins do telejornal que dão conta das peripécias do personagem-título. Dennis Lavant também está muito bem como Merde, comunicando-se em uma linguagem gutural e gestual, com direitos a cuspidas nas mãos e tapas na cara para dizer as coisas mais simples.
Quem fecha o filme é o sul-coreano Jon Ho-Bong, com Shakin' Tokyo, narrado por um hikikomori, espécie de eremita urbano, que logo no início da trama relata ter abdicado do contato social e com a luz do sol para viver em paz, trancado na sua casa. Fazendo todas as suas compras por telefone, o personagem sem nome vive em um verdadeiro depósito, que certamente seria um delicioso objeto de análise para um psicanalista. Certo dia, em meio a um terremoto, o homem recebe uma visita que lhe mostra, sem querer, que apertando os botões certos, literalmente, conviver do lado de fora pode até ser viável.
Gondry, Carras e Ho-Bong falam de Tóquio sem quase mostrar imagens da cidade, por meio das manias e hábitos de alguns dos diversos tipos que nela vivem. O filme reafirma alguns dos estereótipos mais batidos sobre a cidade e seus habitantes, mas também traz aspectos menos conhecidos para, e principalmente, por estrangeiros.
Além de ser divertido, Tokyo! discute as questão "espaço" e "lugar", seja nos sentidos mais práticos do termo, ou em acepções mais amplas e metafísicas - os tais "quem sou eu?", "qual a minha obra?" "para que sirvo?" -, que também espelham um dilema próprio da cidade, ao mesmo tempo moderna, milenar, oriental, ocidental, tradicional, vanguardista e, como o filme a quem empresta o nome, irregular e bela - de um jeito bem pouco ortodoxo.
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