Com muita simplicidade, Kore-Eda, que já havia arrebatado os fãs da Mostra e do cinema em geral com Ninguém pode Saber (2004), e Hana (2006), consegue, uma vez mais, fazer um filme que deslumbra com naturalidade, sem acontecimentos ruidosos, com fluidez narrativa e atuações tão confortáveis quanto seguras. Cuidadoso, o diretor ganha o público nos detalhes, uma característica marcante e inerente a diversos outros bons filmes japoneses.
O filme nos traz a história de uma família cujo grande segredo é ser comum. Anualmente, pais, filhos, netos e agregados se reúnem em uma data específica na casa dos avós com um propósito revelado aos poucos, mas cujas conseqüências permeiam todo o filme: relembrar a morte de um membro da família.
E diante dessa ausência, questões como culpa, expectativa e fracasso são expostas e revisitadas, como se lidar com todas as questões à luz dessa, e das outras mortes que também afetam as vidas dos outros personagens, fosse uma homenagem - embora seja nada mais do que simplesmente viver.
Do ladrilho encardido que se desprende do quarto de banhos à meia suja de um visitante crucial para o entendimento das motivações da matriarca vivida por Kirin Kiki, destaque de elenco juntamente com a linda Yakuri Yokoyama, que interpreta sua nora, Seguindo em Frente transparece uma extrordinária realidade. Uma realidade que é muito japonesa, mas que também é muito italiana, judia, búlgara, brasileira.
Querendo ou não, estamos sempre caminhado, seguindo em frente, como nos mostram as emblemáticas primeira e últimas seqüências, raras externas de um filme cuja ação ocorre quase inteiramente na casa dos patriarcas. A vida sempre nos fornece o caminho. E Seguindo em Frente é um filme sobre o caminho, não necessariamente sobre o que fazer dele.
Kore-Eda consegue falar de morte por quase duas horas, sem nunca ser piegas, sem nunca ser sentimentalóide, sem arrancar lágrimas com força. Por mais contraditório que isso possa soar, Seguindo em Frente é um agradabilíssimo feel-good movie, caminhando ao ritmo silencioso daqueles passos lentos, porém certeiros e contínuos, tão típicos dos velhos japoneses.
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