segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Filme: "Colin" - Zumbis em um filme de US$ 70 - que poderia ter sido ainda mais barato


A lenda que circula é que Colin (2008) foi feito com o irrisório orçamento de US$ 70, ou cerca de R$ 120, give or take, pela cotação média dos últimos dias. Ou seja, se for exibido na sala premium do Cinemark do Shopping Cidade Jardim, Colin começa a dar lucro local a partir do terceiro ingresso. E, acreditem, o filme poderia ter sido até mais barato. Apesar do baixo custo, Colin, que merece sim ser visto, tem problemas de gente grande - por razões mais prosaicas, imagino.

Simplificando ao máximo, tudo que um filme de zumbis precisa é de um núcleo de mortos-vivos e um núcleo de resistência. No mais, dá-lhe correria, gente mancando (por que, hein?) maquiagem, ketchup, gritos e grunhidos estridentes. Aliás, de um tempo para cá, todo zumbi que se preze consegue se mover na velocidade do Flash, além de dar grunhidos semelhantes aos que as cobras venenosas emitem quando exibem as presas e preparam o bote.

Em Colin estão presentes quase todos os clichês do gênero, o que não é necessariamente ruim, no caso. Quem entrar em uma sala de um filme desse tipo esperando um primor artístico está certamente mal-informado. Um filme de zumbis é um filme de zumbis, seja do Danny Boyle ou do estreante Marc Price, que assina Colin.

Colin tem pontos bastante positivos, a começar pela escolha do protagonista, que, ao contrário da maioria dos filmes do gênero, é um dos mortos-vivos. O fato de a câmera - nesse caso no singular, literalmente, já que "a outra" pifou durante as filmagens - acompanhar o zumbi que dá nome ao filme, e não os humanos não-infectados, é uma decisão acertada. A total ausência de lógica nas atitudes do personagem, que entra e sai de lugares a esmo, dá mesmo uma perspectiva diferente. Qualquer coisa pode acontecer.

A falta de explicação sobre o surgimento das criaturas também trabalha em favor do roteiro. Tudo que se sabe é que eles existem e que o governo está trabalhando para destruí-los. Em dado momento, o telejornal dentro do filme menciona uma bomba-atômica (!). Outro ponto a ser destacado é o movimento de câmera. Se falta muita qualidade na captação, sobra criatividade, tanto para as cenas de ação, com a câmera em movimento, quanto nas cenas em que ela está parada. As atuações (?) também são muito convincentes, com destaque para vivos e mortos-vivos.

O principal problema do filme é seu ritmo - além da montagem. De todos os recursos que precisava, certamente gente disposta a colaborar não foi o mais escasso. E, acredito, para agradar a todos os voluntários, Colin se arrasta em alguns momentos, para dar conta de exibir os rostos de todos os seus personagens. Em mais de uma ocasião antes do final, também segundo a opinião do cineasta André Moreira, da Poeira Filmes, com quem assisti ao filme, Colin poderia ter sido encerrado, sem comprometer em nada a congruência da trama. Tanto que há dois desfechos.

Talvez, se tivesse se preocupado menos em agradar os amigos, Marc Price teria economizado alguns litros de chá e café, que segundo ele, foram os únicos gastos com equipe e elenco, e ter feito um filme mais enxuto, mais barato e ainda melhor.

A despeito dos problemas, exibido com barulho em Cannes, e já comprado para distribuição no Reino Unido, Colin merece ser visto e vale o ingresso. Nem se for só para dizer que, um dia, você pagou mais de 10% do orçamento de um filme para poder assistí-lo.

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